Post by ëssaht on Jan 10, 2017 17:57:07 GMT
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
(...)
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
(...)
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
— Manuel Bandeira
ëssaht.
Foi o que disse a deusa Bettenou ao criar a raça humana. Pois mesmo após salpicar o céu noturno com suas estrelas mais cintilantes e permear a terra fértil com rios correntes e quedas d’água, mesmo que o simples deslizar de seus dedos sobre o solo houvessem originado um tão incrível arco-íris de flores e dado vida a tantos animais fascinantes, algo ainda faltava.
Por isso, sobre a terra de seu mundo que pulsava com vida, repleto das flores mais cheirosas, das árvores mais altas e dos animais mais coloridos, Bettenou desejou criar os mais belos seres feitos à sua imagem. Aqueles que com toda a sabedoria que lhes fora presenteada descobririam os segredos do universo, construiriam os mais magníficos monumentos e em harmonia fariam com que o mundo de maravilhas de Bettenou se fizesse ainda mais deslumbrante e esplendoroso.
Assim, a deusa ergueu os olhos para o céu iluminado com o que mais pareciam inúmeros diamantes, e com toda a graça permitiu que seu corpo se desfizesse nas criaturas com as quais sempre sonhara.
De seus pés dançantes em meio à mata viva e à terra úmida, surgiu Omega: delicados, frágeis, artistas. Seus primeiros filhos. De suas mãos firmes e seguras, já mais hábeis em sua criação, veio Beta: talentosos, harmoniosos, sagazes. Foram os segundos filhos. E de sua cabeça, aquela que com a ideia contém a perfeição definitiva, nasceu Alpha: inteligentes, fortes, líderes. Os últimos filhos.
E então a deusa retornou ao reino dos imortais, deixando todo um novo mundo de milagres e descobertas para aqueles que com tanto carinho concedeu a vida. Mas, antes de ir, a palavra. Para que seus herdeiros sempre soubessem que não estavam sozinhos nos momentos mais difíceis.
ëssaht.
O suspiro da criação. A ligação entre o reino intocável das estrelas e a terra dos comuns. A ponte entre os céus e as águas. O último contato entre a deusa e seus filhos.
Assim nasceu a raça humana. Por meio do sacrifício e amor da Deusa, surgiram os seres que hoje dominam a tecnologia em seu auge e, em harmonia com a natureza, são capazes de fazer realidade dos sonhos. O mundo é inteiramente globalizado e unido, organizado nas três classes originais: Omega, os filhos do amor e da arte, cujo balançar dos quadris e bater dos cílios são o suficiente para trazer ainda mais luz para mundo, fazer o coração flutuar; Beta, os filhos do talento e do instinto, com as mãos tão habilidosas e criatividade tão viva que são capazes de manufaturar os mais belos objetos, desde artesanatos a máquinas; Alpha, os filhos da razão e da sabedoria, esclarecidos e ávidos pelo conhecimento que a Deusa lhes deixou escondido antes de voltar para seu reino nos Céus, os justos, os líderes.
Tudo é belo no mundo de Edom, que, mesmo dividido em diversos distritos, com as mais fascinantes identidades culturais todos eles, permanece em paz total e na união da raça — pois a raça humana é única e una, o próprio corpo da Deusa espalhado em várias pequenas almas. Mesmo o pensamento de guerras e conflitos é um sacrilégio por si só. Em Edom reina a paz, a vida e a felicidade. Nos dias mais claros as estrelas a ninguém abandonam, e nas noites mais escuras o sol promete voltar a brilhar. As pessoas ajudam umas às outras. Não há miséria. Não há crime. Não há poluição, tampouco gastos desnecessários ou lixo. O auge da humanidade enfim. Tudo graças à Deusa.
ëssaht.
Por todo o mundo, o sistema vigente é o chamado “etéreo”: sempre organizados em suas respectivas classes, cada indivíduo possui sua função. Alpha governa, indiscutivelmente os mais aptos a guiarem o povo para tempos de ainda maior prosperidade. Beta produz, garantindo para que não falte a ninguém aquilo de que precisam — seja comida, roupas, equipamentos. E Omega entretém, criando a arte de que o mundo tanto necessita. Pois não importa a beleza das florestas ou o sacudir das ondas, o mundo não é nada sem arte, sem música, sem dança. Todos ganham exatamente o equivalente a seu trabalho, e não há injustiças.
Bem-vindo a Edom. Que a Deusa lhe conceda sua bênção e iluminados sejam seus olhos. ëssaht.
——Em Edom não há guerra, não há crime.
Até que passou a haver.
Omegas revoltosos em busca do caos. Rugindo blasfêmias, desacreditando a boa Deusa. Negando a Criação, trazendo histórias absurdas de guerras passadas e civilizações perdidas. Loucos, todos eles, espumando pela boca como bestas selvagens, sangue nos olhos à procura de destruição. Os primeiros terroristas da História.
Foram tantas as vidas inocentes usurpadas de seu dever sagrado. Explosões, massacres, tantos Alpha chacinados. Banho de sangue deixou de ser uma expressão usada unicamente em histórias de horror. Loucura não mais um termo médico obsoleto.
“Bettenou não existe!” gritavam os insurgentes. “Um mito criado por Alpha para nos submeter à escravidão! Omega, liberte-se de suas correntes! Fim à exploração sexual, à categorização, à negação de direitos! A deusa é uma mentira! Juntem-se a nós e lhes provaremos!”
Loucura. Não havia nome para tudo aquilo senão a mais aterrorizante loucura.
Porém, por mais insanos que soassem, por mais mentirosas que fossem suas ideias, cada vez mais e mais Omega juntavam-se ao movimento mefistofélico, cada vez mais Omega aderiam à maldade. As revoltas eram tantas que o impensável e triste, tão, tão triste aconteceu: medo. Medo pelo mundo inteiro, o sentimento em massa de falta de segurança. Pois ninguém sabia quem — ou o quê! — liderava os insurgentes, onde se escondiam; pior, ninguém sabia como fazê-los retornar aos caminhos da fé. Oh, se não eram tantos jovens se perdendo para a barbárie...
E você, que caminho escolherá tomar? Ora, não, não, venha cá, não se vá. Ajude-nos a recuperar a harmonia de nosso mundo, ajude-nos a reconstruir a utopia. Não nos dê as costas. Não dê ouvidos ao delírio que é a Insurgência Omega.
Que a Deusa conceda sua bênção — a você, a todos nós. ëssaht.
Foi o que disse a deusa Bettenou ao criar a raça humana. Pois mesmo após salpicar o céu noturno com suas estrelas mais cintilantes e permear a terra fértil com rios correntes e quedas d’água, mesmo que o simples deslizar de seus dedos sobre o solo houvessem originado um tão incrível arco-íris de flores e dado vida a tantos animais fascinantes, algo ainda faltava.
Por isso, sobre a terra de seu mundo que pulsava com vida, repleto das flores mais cheirosas, das árvores mais altas e dos animais mais coloridos, Bettenou desejou criar os mais belos seres feitos à sua imagem. Aqueles que com toda a sabedoria que lhes fora presenteada descobririam os segredos do universo, construiriam os mais magníficos monumentos e em harmonia fariam com que o mundo de maravilhas de Bettenou se fizesse ainda mais deslumbrante e esplendoroso.
Assim, a deusa ergueu os olhos para o céu iluminado com o que mais pareciam inúmeros diamantes, e com toda a graça permitiu que seu corpo se desfizesse nas criaturas com as quais sempre sonhara.
De seus pés dançantes em meio à mata viva e à terra úmida, surgiu Omega: delicados, frágeis, artistas. Seus primeiros filhos. De suas mãos firmes e seguras, já mais hábeis em sua criação, veio Beta: talentosos, harmoniosos, sagazes. Foram os segundos filhos. E de sua cabeça, aquela que com a ideia contém a perfeição definitiva, nasceu Alpha: inteligentes, fortes, líderes. Os últimos filhos.
E então a deusa retornou ao reino dos imortais, deixando todo um novo mundo de milagres e descobertas para aqueles que com tanto carinho concedeu a vida. Mas, antes de ir, a palavra. Para que seus herdeiros sempre soubessem que não estavam sozinhos nos momentos mais difíceis.
ëssaht.
O suspiro da criação. A ligação entre o reino intocável das estrelas e a terra dos comuns. A ponte entre os céus e as águas. O último contato entre a deusa e seus filhos.
Assim nasceu a raça humana. Por meio do sacrifício e amor da Deusa, surgiram os seres que hoje dominam a tecnologia em seu auge e, em harmonia com a natureza, são capazes de fazer realidade dos sonhos. O mundo é inteiramente globalizado e unido, organizado nas três classes originais: Omega, os filhos do amor e da arte, cujo balançar dos quadris e bater dos cílios são o suficiente para trazer ainda mais luz para mundo, fazer o coração flutuar; Beta, os filhos do talento e do instinto, com as mãos tão habilidosas e criatividade tão viva que são capazes de manufaturar os mais belos objetos, desde artesanatos a máquinas; Alpha, os filhos da razão e da sabedoria, esclarecidos e ávidos pelo conhecimento que a Deusa lhes deixou escondido antes de voltar para seu reino nos Céus, os justos, os líderes.
Tudo é belo no mundo de Edom, que, mesmo dividido em diversos distritos, com as mais fascinantes identidades culturais todos eles, permanece em paz total e na união da raça — pois a raça humana é única e una, o próprio corpo da Deusa espalhado em várias pequenas almas. Mesmo o pensamento de guerras e conflitos é um sacrilégio por si só. Em Edom reina a paz, a vida e a felicidade. Nos dias mais claros as estrelas a ninguém abandonam, e nas noites mais escuras o sol promete voltar a brilhar. As pessoas ajudam umas às outras. Não há miséria. Não há crime. Não há poluição, tampouco gastos desnecessários ou lixo. O auge da humanidade enfim. Tudo graças à Deusa.
ëssaht.
Por todo o mundo, o sistema vigente é o chamado “etéreo”: sempre organizados em suas respectivas classes, cada indivíduo possui sua função. Alpha governa, indiscutivelmente os mais aptos a guiarem o povo para tempos de ainda maior prosperidade. Beta produz, garantindo para que não falte a ninguém aquilo de que precisam — seja comida, roupas, equipamentos. E Omega entretém, criando a arte de que o mundo tanto necessita. Pois não importa a beleza das florestas ou o sacudir das ondas, o mundo não é nada sem arte, sem música, sem dança. Todos ganham exatamente o equivalente a seu trabalho, e não há injustiças.
Bem-vindo a Edom. Que a Deusa lhe conceda sua bênção e iluminados sejam seus olhos. ëssaht.
——Em Edom não há guerra, não há crime.
Até que passou a haver.
Omegas revoltosos em busca do caos. Rugindo blasfêmias, desacreditando a boa Deusa. Negando a Criação, trazendo histórias absurdas de guerras passadas e civilizações perdidas. Loucos, todos eles, espumando pela boca como bestas selvagens, sangue nos olhos à procura de destruição. Os primeiros terroristas da História.
Foram tantas as vidas inocentes usurpadas de seu dever sagrado. Explosões, massacres, tantos Alpha chacinados. Banho de sangue deixou de ser uma expressão usada unicamente em histórias de horror. Loucura não mais um termo médico obsoleto.
“Bettenou não existe!” gritavam os insurgentes. “Um mito criado por Alpha para nos submeter à escravidão! Omega, liberte-se de suas correntes! Fim à exploração sexual, à categorização, à negação de direitos! A deusa é uma mentira! Juntem-se a nós e lhes provaremos!”
Loucura. Não havia nome para tudo aquilo senão a mais aterrorizante loucura.
Porém, por mais insanos que soassem, por mais mentirosas que fossem suas ideias, cada vez mais e mais Omega juntavam-se ao movimento mefistofélico, cada vez mais Omega aderiam à maldade. As revoltas eram tantas que o impensável e triste, tão, tão triste aconteceu: medo. Medo pelo mundo inteiro, o sentimento em massa de falta de segurança. Pois ninguém sabia quem — ou o quê! — liderava os insurgentes, onde se escondiam; pior, ninguém sabia como fazê-los retornar aos caminhos da fé. Oh, se não eram tantos jovens se perdendo para a barbárie...
E você, que caminho escolherá tomar? Ora, não, não, venha cá, não se vá. Ajude-nos a recuperar a harmonia de nosso mundo, ajude-nos a reconstruir a utopia. Não nos dê as costas. Não dê ouvidos ao delírio que é a Insurgência Omega.
Que a Deusa conceda sua bênção — a você, a todos nós. ëssaht.